quinta-feira, junho 23, 2005

 

loopings e repetições

ouço-te em looping. um disco riscado, uma frase que volta tantas vezes até que eu saiba que era aquilo que queria dizer, e redescubra beleza em algo que sempre esteve ali e eu via torto. porque vejo torto e porque eu sou míope e porque também te mostras torto. saber-te, aos poucos, pelas palavras, pelo gesto e expressões. ler-te. sentir-te. saber-te. querer-te.

e, coisa de poucos dias, começo a ouvir-me em looping. e gosto, e quase sorrio ao descobrir que posso me (re)descobrir, pouco a pouco. e se sou míope, vejo melhor de perto: e mais perto que eu, quem? o eu-lírico? custou-me tempo para perceber, mas é assim de simples. saber-me pelas palavras que mal controlo, mas que aqui estão. ler-me. embarcar em mim mesma, buscar meu centro de gravidade, porque o mundo tem o dele há tempos. saber-me.


"Dane-se nada,
Dane-se tudo,
Quando você está aqui
Dane-se o mundo
Quando você sorri"

Comments:
pode danar tudo meu bem...
mas nao
dane-ela

que ela nao merece :)
 
Gosto de sentir de perto o outro corpo. O corpo é presença: uma forma que, por instante, é todas as formas do mundo. Ao abraçarmos essa forma, deixamo-nos de nos aperceber dela como presença e agarramos como matéria concreta, palpável, que nos cabe nos braços, e todavia, é ilimitada. Ao abraçar a presença, deixamos de vê-la e ela própria deixa de ser presença. Dispersão do corpo desejado: somente uns olhos que nos olham, uma garganta iluminada, o brilho de uma coxa, a sombra que desce do umbigo ao sexo. Cada fragmento vive por si só mas alude à totalidade do corpo. Corpo que num ápice se tornou infinito. O corpo do meu par deixa de ser uma forma e transforma-se em substância informe e imensa, na qual, ao mesmo tempo, me perco e recupero.
Perdemo-nos como pessoas, recuperamo-nos como sensações.
 
tiago: hmmmmm, obrigada! não pode danar tudo, não. Mas mta coisa pode, e de pouco damo-nos conta, não? :-)

jmnk: gosto da idéia de dispersão do corpo desejado; descobrir aos pedaços, um olhar de admiração mudo, quase contemplação. esse olhar que revela um brilho no olhar, uma curva. e nesse sentido, para isso nada melhor que ouvir, sentir alguém em looping; "até fartar", usando as palavras do tiago... mas então não há de haver fartar, e é essa parte da beleza disso a que chamo Amor.

o que se faz necessário antes, parece-me, é embarcar em si para então poder outrar-se. mas isso já é outra história...

obrigada pelos comentários! :-)
 
dani... prazer ler e conhecer tua prosa fluida, significada, quase poética...
parabéns e insista, q o teu prazer em escrever se converte no da leitura para outrem...
 
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