quarta-feira, outubro 12, 2005

 

Fluxo

E de uns tempos para cá, não sei mais escrever em papel. Claro, das escritas burocráticas eu ainda sou capaz. Mas assim, sem mais, de tão acostumada que estou a esse teclado e a esse ato-contínuo movimento de comunicar já quase nem penso quando só tenho que elevar um pouco os dedos, não olhar para baixo, na verdade não olhar para nada. Só deixar o fluxo. Interrompido, intermitente. Ainda fluxo?

Poder apagar sem magoar o papel: sem deixar mácula. Mais fluido?

Comments:
Ôpa! Saudades de ler esse seu ritmozinho em brasileiro... bem saboroso :)

Não acho que se possa apagar sem magoar o papel.. será que pode? Será que o papel não se torna nosso assim que pegamos nele? E escrever nele é ver-se ao espelho. e apagar é jogar o espelho pela janela fora e comprar outro. Não vale experimentar tantos espelhos mágicos assim, sempre procurando novas identidades.

Ou será que vale?

Claro que vale. Tudo vale. "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Detesto a sonoridade desta frase do Fernando (parece rima coração-limão e está demasiado na boca do povo) mas até que tem algum sentido.

Beijo para você.
 
O papel faz o seu papel; umas vezes é rasgado, queimado, trucidado em máquinas de dentes, nos dias felizes é beijado, cheirado, afagado, lambido até; mas flui sem mágoa, é o seu papel.
 
para quando o refluxo...?
 
Com imenso atraso, seguem as respostas:

Tiago: sim, o papel é nosso espelho, e talvez justamente por isso, por não querer ver, seja mais fácil apagar sem deixar vestígios materiais. Um jogo de esconde-esconde com a própria consciência, seria possível? A busca de novas identidades resultaria ilusória, no entanto: a identidade é aquela que sempre estará, latente. Tema longo: somos únicos, ainda que mosaicos de tantas partes...

jmnk: é o seu papel, ou passamos nós a ser deles, no momento em que nos outramos, projetamos nele?
Ah, o próximo post é uma resposta à tua segunda pergunta... ;-)
 
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