sábado, junho 04, 2005
Azul
Confunde essa insuspeita necessidade de escrever. Trata-se de incômodo febril e nervoso, o ato da escritura. Ao menos para mim, a cada dia mais distante desse que poderia ser o meu mundo, mas não. O maldito pragmatismo. O Cansaço.
Não esperava que voltasse por esses dias, nem tanto, nem tão forte. Fazia tempo, e muitas vezes o que mais faço é esperar. Esperar uma reação, esperar que algo, em mim e por mim, se mova. Esperar? Espero e des-espero. E ao desesperar, aceito que não, o azul de Miró não estará lá fora, e certamente não vai me aparecer, ainda que o oceano aqui seja azul. Penso então que mais bem me vai esse céu azul gris, meio byroniano, mas cálido, muito mais do que tantos e tantos dias de inverno com um céu tão azul de doer a vista. Azul bebê, mas azul.
Chega de cores, chega de azul. Chego em mim, acho que finalmente. E custa tanto, tanto. Será necessário partir de mim, meu porto seguro, para encontrar o outro? Outrar-se? Mas ser porto seguro de si é encontrar terra em um navio. Para não marear-se, tomar as rédeas, ter o controle. Conduzo em estrada sinuosa, mas não sou conduzida. Ilusão confortável, talvez. A salvo, por quanto tempo?
O sonho sumiu por um tempao, mas reapareceu com forca total quando li "H.M.S. Cormorant", aquele poema incidental eh o maximo.. e dai fez o sonho voltar, mas nao ajudou pra saber o q era o 3o elemento..
Ai o sonho foi embora de novo, e volta e meia aparece, talvez apareca mais vezes do q eu possa lembrar... quem sabe?
Esta frase que vale ouro... também acho que ser (porto) seguro de si é estar bem em qualquer lado, qualquer que seja a maré...
A maioria das pessoas ou se afoga ou então acaba por nunca mergulhar nem explorar o mar, agarrado a bóias de salvação...
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?"
Não vai querer estar em um barco abandonado, te garanto. É mais fácil ter as rédeas e fazer as correções.
tiago: afogamos todos quando em vez, não te parece? mesmo com imensos enforços, não há jeito. podemos ser portos seguros todo o tempo? a ponto de nada (nem ninguém) pôr-nos a pique?
pedro: ao estarmos casados com nosso fado, parece que é inevitável o rumo a seguir. fazemos nós as correções ou temos a ilusão confortável de fazê-las? é minha dúvida, meu incômodo, minha inquietude. ou parte dela.
** obrigada pelos comentários! :-)) **
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