terça-feira, junho 14, 2005
Pólos
Faz muito tempo, e aniversários são sempre assim: como velórios. O constrangimento de falar, a inadequação das frases, o deslocamento no tempo e no espaço. Tudo em comum, até mesmo o propósito da comemoração. Pois a cada momento celebramos nossa própria morte. Se festejamos a passagem de um ano, de um mês, de um dia, parece claro que aguardamos avidamente pelo fim. No entanto, quando ele se mostra presente, há o constrangimento e a comoção. Pois onde há vida não pode haver morte, não parece de bom tom, nem educado este tipo de coisa.
De toda forma, o que há é uma incômoda presença, do convidado que não estava na lista, daquele que só esperávamos encontrar mais tarde, ou, quem sabe, não encontrar. Nunca o pôr do sol pode estar mais próximo, e ao mesmo tempo mais distante: nos pólos, não há horizonte: há o infinito. E vida e morte são os pólos, que não se encontram, tendem a infinito e quem sabe lá, longe de olhares curiosos, onde até mesmo as paralelas se encontram, elas não se encontrem?
De toda forma, o que há é uma incômoda presença, do convidado que não estava na lista, daquele que só esperávamos encontrar mais tarde, ou, quem sabe, não encontrar. Nunca o pôr do sol pode estar mais próximo, e ao mesmo tempo mais distante: nos pólos, não há horizonte: há o infinito. E vida e morte são os pólos, que não se encontram, tendem a infinito e quem sabe lá, longe de olhares curiosos, onde até mesmo as paralelas se encontram, elas não se encontrem?
Comments:
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Não acho que nos aniversários se celebre a morte, sinceramente... ainda que ela esteja presente em tudo o que passamos. Mas acho sinceramente que é a celebração da vida, de como cada pequeno momento vale a pena viver. O "carpe diem" que eu escrevia ontem.
Também acho que é a celebreção da amizade verdadeira e do recordar de momentos, claro que com alguma nostalgia por vezes. Mas não percebo esse constrangimento. Mas isso sou eu que sempre convido muito poucas pessoas e prefiro por vezes passar um dia apenas com 1 ou 2 grandes amigos mais a família, em lugar de fazer festanças alienatórias de dezenas de "amigos" que não são mais que pessoas que conhecemos mal ou de quem apenas temos número de telefone.
As paralelas só e absoluto não se poderem encontrar no espaço Euclidiano - o "plano" que é bi-dimensional. Acho seu texto um pouco pessimista, não sei... Acho que o entendi mais ou menos, mas não sei. Sei apenas que meus aniversários são apenas 1 dia mais que passa e um pretexto para reunir aqueles que são realmente importantes para mim. SObretudo isso, um bom pretexto.
Também acho que é a celebreção da amizade verdadeira e do recordar de momentos, claro que com alguma nostalgia por vezes. Mas não percebo esse constrangimento. Mas isso sou eu que sempre convido muito poucas pessoas e prefiro por vezes passar um dia apenas com 1 ou 2 grandes amigos mais a família, em lugar de fazer festanças alienatórias de dezenas de "amigos" que não são mais que pessoas que conhecemos mal ou de quem apenas temos número de telefone.
As paralelas só e absoluto não se poderem encontrar no espaço Euclidiano - o "plano" que é bi-dimensional. Acho seu texto um pouco pessimista, não sei... Acho que o entendi mais ou menos, mas não sei. Sei apenas que meus aniversários são apenas 1 dia mais que passa e um pretexto para reunir aqueles que são realmente importantes para mim. SObretudo isso, um bom pretexto.
meu ponto é que de forma indireta, sim, se celebra a morte. celebra-se estar a cada momento mais perto do fim. mas isso não é lembrado, ou melhor, é convenientemente esquecido, para que haja celebração.
como tu mesmo disseste, "faz parte do faz-de-conta em que o homem escolheu viver insistir no fingimento que a morte não é um problema e como tal não falar dela. No fundo, fingir que não é homem".
nunca convido ninguém para meu aniversário; mas falo de aniversários em geral... aqueles que não passam de encontros pro forma estabelecidos culturalmente pela nossa sociedade ocidental, não do pretexto legítimo de encontro com Amigos e Família...
e por último, não me parece que seja pessimista: na verdade, a dita dicotomia entre vida e morte cada vez me parece menos definida, o que soa bastante otimista, para dizer a verdade.
mas bem, isso é assunto longo, a ser discutido poc a poc, me parece. ;-)
como tu mesmo disseste, "faz parte do faz-de-conta em que o homem escolheu viver insistir no fingimento que a morte não é um problema e como tal não falar dela. No fundo, fingir que não é homem".
nunca convido ninguém para meu aniversário; mas falo de aniversários em geral... aqueles que não passam de encontros pro forma estabelecidos culturalmente pela nossa sociedade ocidental, não do pretexto legítimo de encontro com Amigos e Família...
e por último, não me parece que seja pessimista: na verdade, a dita dicotomia entre vida e morte cada vez me parece menos definida, o que soa bastante otimista, para dizer a verdade.
mas bem, isso é assunto longo, a ser discutido poc a poc, me parece. ;-)
ah! ok... acho que aqui foi a interpretação de "aniversário". Não que em português (de Portugal) não possa ter interpretação mais lata que o «birthday» em inglês, para o «anniversary» que você queria dizer.
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